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Por que um determinado empreendimento pode não dar certo?
Assumir um novo empreendimento baseado apenas em sua experiência profissional e aspectos relacionados a conhecimento técnico quanto aos produtos, ou, serviços oferecidos e ao mercado pode não ser o suficiente.
É natural que alguns profissionais, após vários anos pertencendo ao quadro de colaboradores de empresas do setor privado ou público resolvam, ou, por iniciativa própria, ou por necessidade do momento, partirem para empreenderem no próprio negócio. Esse é o chamado ”voo solo”.
A identificação é apropriada, pois trata-se, realmente, de um “voo solo”, ou seja, diferentemente da empresa na qual se trabalhava, onde se tinha toda uma estrutura para suportar determinadas decisões, agora na gestão do próprio negócio, na grande maioria das vezes, as resoluções são realizadas pelo “time do eu sozinho”.
Isso na visão de alguns profissionais pode não ser problema, tendo em vista a sua ampla e consistente experiência no mercado, e considerando também, que na grande maioria das vezes os empreendimentos por eles realizados estão atrelados a funções, ou, atividades que desenvolveram em suas vidas profissionais.
Assim, aspectos relacionados a conhecimento técnico quanto aos produtos, ou, serviços oferecidos podem não ser problema. Também pode não ser problema o conhecimento do mercado, mas aqui com um ponto de atenção importante, que é conhecer esse mercado para o tamanho da empresa que se está iniciando, e não para o tamanho da empresa na qual se era funcionário; claramente há diferenças a observar quando analisamos esses aspectos, por exemplo, relacionados a empresa multinacional com anos de experiência com marca já consolidada com clientes cativos, e a empresa que está iniciando as atividades tendo que brigar com tudo e com todos para ter seu lugar ao sol.
Um outro aspecto interessante que observamos no mercado com relação a essa tentativa de utilizar no negócio próprio a experiência da vida profissional em outras empresas, está relacionado a gestão do negócio da família.
Muitas vezes o profissional, ao assumir o controle do negócio da família, o faz com a proposta séria de fazer essa gestão como acompanhou e foi treinado na empresa na qual foi funcionário por muitos anos, e aqui também, temos detalhes que na maioria das vezes não se amoldam facilmente de um para o outro caso, e quando se amoldam precisam de tempo de adaptação, assim a “receita do bolo” não será a mesma para um e para o outro negócio.
Baseado nos nossos acompanhamentos nessas situações podemos afirmar que a vasta experiência no mercado como colaborador de empresa do setor privado não é, isoladamente, a fonte de sucesso para o deslanchar do próprio negócio. Podemos ter uma experiência muito grande com relação à questão técnica do produto e serviços a ofertar, mas a nossa bagagem em termos de gestão econômica e financeira pode não ser a ideal para o “voo solo” que pretendemos implementar.
Da mesma forma, podemos dominar a área financeira da empresa no setor privado, mas no nosso empreendimento a “pegada é outra” quando se precisa de uma linha de crédito, e não se possui garantia a oferecer, ou, se faz um planejamento para o próximo biênio mas as coisas não acontecem como programado, ou até mesmo, quando lá dominamos a área comercial mas focando nossa gestão comercial sobre três ou quatro clientes preferenciais, e aqui, agora, temos que desenvolver mercado e clientes novos, considerando que estamos começando um negócio, ou estamos tentando mudar a operação e gestão de negócio já existente.
O importante nessa visão preliminar do empreendedor, além da boa qualidade de produtos e serviços a ofertar, é conhecer o mercado para essa nova composição de fatores operacionais, ou seja, ter dados básicos do mercado no qual irá atuar (como vou ofertar o meu produto, como vou distribuí-lo, qual o tempo de entrega com o qual vou trabalhar, qual o meu custo de produção, como vou administrar aspectos logísticos, qual deve ser o perfil do meu cliente, qual o meu procedimento para o desenvolvimento de fornecedores e análise de sua retrospectiva comercial com relação a prazo de entrega, qualidade, flexibilidade em negociações, etc...).
Além disso, também é importante valorizar a sua operação, e ao tratarmos de valorização a abordagem não é somente o preço de compra de insumos, ou, o preço de venda de produto acabado, mas sim os aspectos que envolvem temas econômicos do negócio, como por exemplo, quais são os impostos incidentes no negócio resultado do empreendimento, qual o melhor enquadramento tributário para o mesmo, como identificar as variáveis preço, possibilidade de recuperação de impostos, e custos, o que tratar como custos fixos, variáveis e despesas operacionais. Não menos importante é ter à mão para análise preliminar uma política de orçamento periódico e uma estrutura consistente de fluxo de caixa.
Assim, se formos analisar isoladamente, o conhecimento técnico do produto ou serviço a ofertar, ou mesmo, o domínio de determinadas fases atreladas a elite da cadeia do fluxo comercial desses itens, ou o aprendizado dos meandros de controles econômicos e financeiros também relacionados a elite comercial da cadeia de fornecimento relacionado a esses itens, podemos concluir que esses pontos não serão suficiente para o sucesso do empreendimento.
O ideal é unir todos eles – conhecimento técnico,comercial, econômico e financeiro – e elaborar um plano de negócio consistente analisando todas as possíveis variáveis da operação. O início de qualquer empreendimento é lastreado com a certeza de sucesso, e não podia ser diferente, contando com a experiência do empreendedor, ficando aqui o alerta de que essa experiência pode não contemplar de forma consistente os pilares essenciais para alcançar o objetivo pretendido, e aí é necessário dividir experiências.