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BC diminui juros para 7,5% ao ano
Foi o nono corte seguido na taxa Selic, que estava em 8% e agora é a menor da história. Medida busca estimular a economia
Com a missão de fazer a economia reagir até o fim do ano, o Banco Central cortou ontem mais 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros(Selic), estabelecendo um novo piso histórico. Foi a nona queda consecutiva ao longo de um ano, movimento que levou o indicador de 12,50% para 7,5% anuais. Segundo analistas, o BC deixou claro, no comunicado pós-reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que a continuidade no processo de baixa nos juros, em outubro próximo, só se confirmará caso a atividade econômica se mantenha no atoleiro e a situação externa piore. As portas, porém, estão abertas para pelo menos mais uma redução de 0,25 ponto.
Para sinalizar que o ciclo de afrouxamento monetário está próximo fim, o BC mudou completamente o comunicado do Copom. Reconheceu que a economia está em marcha lenta e deixou claro que está perto do limite em que pode chegar sem comprometer o combate à inflação — a meta para este ano e para 2013 é de um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,5%. "O Copom entende que, se o cenário prospectivo vier a comportar um ajuste adicional nas condições monetárias, esse movimento deverá ser conduzido com máxima parcimônia", disse o comunicado do Banco Central.
Para Carlos Thadeu Filho, economista da gestora de recursos Franklin Templeton, ainda acredita em um corte de mais 0,25 ponto na Selic, para 7,25% ao ano. "Se houver possibilidade, haverá mais uma baixa em outubro, mas vai depender da evolução da inflação (que se mantém acima de 5% em 12 meses) e da reação da economia nos próximos meses", observou. Segundo executivo de um banco estrangeiro, ao reduzir os juros, mesmo com o custo de vida acima da meta, o BC deu um alento, sobretudo, ao empresariado que está preocupado com o desempenho das economias norte-americana, europeia e chinesa.
O setor produtivo, no entender dos analistas, está com dificuldades para enxergar horizontes até mesmo de curto prazo e, por isso, adia planos de investimentos. Os mais pessimistas começam a projetar, inclusive, expansão de apenas 6% para a China no ano que vem, o que seria um problema para os exportadores brasileiros de commodities (produtos básicos com cotação internacional).
Portas abertas
Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, ponderou que o BC deixou "a porta aberta" para decidir, em outubro, se continua a reduzir a Selic ou não. Na avaliação dele, a retomada da economia ainda está concentrada nos setores que receberam estímulo do governo e, na média, o país ainda não respondeu como o esperado. Não à toa, o Ministério da Fazenda estendeu o prazo de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros, eletrodomésticos e materiais de construção. Para ele, no geral, as vendas do varejo estão em ritmo de crescimento ainda fraco.
Outros economistas ouvidos pelo Correio observaram que, com a Selic caindo para 7,5% ao ano, o BC está confortável com o custo de vida acima da meta e disposto a aceitar um índice próximo a 5,5%. Ou seja, para eles, o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini tem duas missões: controlar a inflação e garantir uma taxa de crescimento mínima para o país. "É uma administração que está olhando, de um lado, para a inflação, que ainda se encontra acima da meta, e, de outro, para a fraqueza da economia", observou Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra. Segundo ele, a decisão do BC deve ter sido tomada com base em projeções que indicam que o Brasil está crescendo bem abaixo de seu potencial.
Sílvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, tem opinião semelhante. "O BC tenta passar para os agentes que a inflação está sob controle e caminhando para a meta", disse. "Os números, porém, mostram que essa convergência (da inflação) não é tão firme na prática. Até por conta disso, entendemos que, em outubro, deve haver o último ajuste nos juros", argumentou. Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB, acredita que o BC adotará um tom cauteloso a partir de agora, sobretudo porque a economia brasileira retomará o crescimento e, consequentemente, haverá mais pressão inflacionária. "Diante da maciça injeção de estímulos, é natural imaginar que a economia brasileira irá, em algum momento, adentrar em um ciclo de recuperação mais robusto, provavelmente quando o cenário externo se tornar mais claro", disse.